Pois bem, há vantagens e desvantagens para ambos os lados.
Então, para beber nesta fonte, fui conversar com uma colega da época de faculdade que sempre trabalhou e estudou. Ela conseguiu se tornar servidora pública apesar de todos os desafios. Ela, na época, era casada e já tinha duas filhas pequenas. Tinha que cuidar delas, fazer comida, dar atenção ao marido, arrumar casa e…Nossa! Ela ainda estudava! Não era muito tempo disponível, mas ela o fazia.
Estudava no ônibus, na fila do banco. Tinha resumos e esquemas espalhados pela cozinha (ela lia enquanto lavava a louça). Pasmem, mas em frente ao seu sanitário também havia mapas mentais! Ela lia esquemas durante o banho também (risos). Minha colega queria muito ser aprovada em um concurso e melhorar a sua vida.
Nos finais de semana, pedia para o marido levar as crianças para passear, visitar os avós, para levar para brincar com amiguinhos. E ela aproveitava esse tempo com as filhas ausentes para estudar. Houve épocas em que fez curso preparatórios aos sábados. Daí, ela cumpria sua meta de estudos mais prolongados aos domingos.
Se houvesse algum evento em família que não pudesse faltar, cuidava de acordar mais cedo que suas filhas e seu marido para cumprir sua meta de estudos.
Durante a semana, só dispunha de duas horas diárias em casa. Portanto, estudava disciplinadamente essas horas após todos irem dormir. Como sabia que não dispunha de muito tempo para intensificar os estudos, buscou fazer um planejamento de longo prazo bastante realista. Quando conseguia, esticava mais um pouquinho até o sono ficar insuportável, pois ele sempre se fez presente. Segundo ela, é praticamente impossível estudar sem um pouco de sono.
Como ganhava pouco em seu emprego anterior, tinha que vender Avon para pagar os cursos preparatórios. No Natal, ao invés de ganhar presentes, ela sempre pedia aos tios, primos e avós para dar-lhe dinheiro de presente. Afinal, esse era o valor do investimento de que necessitava para seu grande projeto de ser aprovada em um concurso público. Tinha verdadeira noção de que, no primeiro salário, recuperaria o valor investido nos cursos, livros e inscrições.
Nas férias, buscava sempre ler algum livro teórico para poder ter embasamento maior, com a finalidade de poder termina-lo mais rápido. Se o marido resolvesse viajar com as filhas e ela, minha colega levava o livro que estava lendo junto e lia na praia. O marido ficava monitorando as meninas no mar.
Ela diz que, sem o apoio do marido não teria conseguido. É claro que, algumas vezes e isso é normal, ele duvidou de que isso pudesse ser possível, pois minha colega amargou algumas reprovações e muitas quase-aprovações. Fora que, por seu marido trabalhar na iniciativa privada no Rio de Janeiro, ela somente se interessava por concursos daqui. Isso aumentava demais a pressão psicológica em cima dela. Então, por isso que digo que trabalhar e estudar é, também, muita superação. Não foi fácil, mas ela conseguiu se tornar técnica judiciária na justiça do trabalho na cidade do Rio de Janeiro.
Como ninguém é uma ilha e não consegue tudo sem ajuda, ela diz que tem enorme gratidão às suas vizinhas advogadas, pois emprestaram alguns livros caros para ler. Afinal, não contei para vocês, mas ela não tinha formação em Direito ainda, tendo somente feito a faculdade depois de se tornar servidora pública. Ela me conta, rindo que achava estranho, quando começou a estudar, o Ministério Público não ter ministro, pois ela nunca havia ouvido falar.
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